iaquafi. Saramthali, Rasuwa, Nepal—12Fev2024
PASSA O AR
Três paredes são de barro. A da frente é de tábua com fendas, entre elas mesmas e entre elas e o telhado de folhas de zinco. Estou no lugar e parece que o lugar está em mim.
O sono é sobre três esteiras de palha sobrepostas, que ficam sobre uma cama sem estrado. São pequenas pranchas sem espaço entre elas, que sinto nas costas tão logo me deito até a hora em que me levanto. Um colchão fino, não o suficiente para ser uma camada grossa entre mim e a madeira, mas o sono é revigorante para o trabalho intenso diário com o café em seu processamento e secagem.
Com a cama encostada na parede de barro, ficam evidentes as ondulações de seu acabamento, que dão um ar ainda mais rústico ao cômodo, que acomoda quatro camas —com uma só ocupada, a minha— e sacos de café num mesmo ambiente.
Deitado, ladeando minha cabeça à esquerda, fica uma porção da parede, de mais ou menos quatrocentos centímetros quadrados, com fissuras em todas as direções.
Viro-me para dormir. Frente a frente, no escuro, é como se meus olhos vissem as entranhas do mundo nas rachaduras.
Pelas trinta e tantas frestas da parede da frente, um vento frio visita como se houvesse janelas... e, ainda, abertas. Lembro-me de que estou sem touca. Nunca consegui dormir com a cabeça sob a coberta.
Ainda é madrugada, mas já é tarde. As costas ardem. Na porta, uma mera tramela. Abro-a, tenho que passar agachado para admirar as estrelas, mesmo sabendo que elas têm crateras.
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[foto]
quando: 12Fev2024
onde: Nepal, Rasuwa, Saramthali
por: Andalaquim