iaquafi. Saramthali, Rasuwa, Nepal—2Fev2024
UM LINDO TRONCO LISO
A árvore insaciável,
que consumiu fótons de dia,
engole a lua,
e não se dá por cheia.
“Ceia, ceia, ceia!”
“Chega, chega, chega!”,
dizem seus estômatos
intumescidos.
“É uma lua pra cada um.”,
diria outro.
Até que regurgita.
“Olha! São estrelas no chão!”,
diz um terceiro.
“Só um segundo,
e que fique bem claro:
são grãos de luz de vômito,
e isso basta aos miseráveis
na escuridão.”
“Que pena!:
poderiam ser fagulhas
do sonho matutino
de uma alvissareira
alvorada.”
“Se liga!: desligue essa luz.
Sempre volta a noite
pra lembrar que o mundo é escuro
e a manhã,
no machado,
o início do açoite.”
“Nunca imaginei isso da árvore.”
“É uma vingança
por tanto fazerem-na de lenha
e não repô-la.
Mas que não gastemos energia com isso.
Vamos ao mato.
É preciso carvão pro desjejum.”
“Chega! Chega! Chega!
Nem na base da vela.”,
disse o último espécime
da última espécie
antes da última ceia,
que não houvera,
se matando
pra não salvar os homens,
que nele botariam fogo
e botariam a culpa.
A derradeira árvore
engoliu o sol
tão logo ele nascera
e se queimou por dentro,
sem remorso
e sem retorce.
Morreram todos.
“Viva o céu dos arbustos
e das abelhas.”,
disse Deus ao recebê-la,
como um pirata
com um marimbondo
no ombro.
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[foto]
quando: 2Fev2024
onde: Nepal, Rasuwa, Saramthali
por: Andalaquim