iaquafi. Paraisópolis, MG, Brasil—2Jan2024
DIZEM QUE SOU AVENTUREIRO
Dizem que sou aventureiro. Está tão entranhado em mim esse espírito —há algum outro meio? Médium— que não me considero um adepto de aventuras. Pra mim, é tudo tão habitual: das faltas de eletricidade e de água corrente —tenho meu método de banho de caneca, aperfeiçoado por dez anos de experiência, que me deixa mais limpo do que com o chuveiro— ao toalete que, na realidade, é apenas um buraco rente ao chão, mas mais em cima, na contra-figura de linguagem.
Quão feliz me fazem os honorários em forma de galinhas, cabritos —aí é ser milionário—, frutas, hortaliças, cereais e grãos. É assim que ganho meu milhão.
Em 2015, antes de embarcar para a Tanzânia, minha tia me perguntou: “Você fala de Deus para eles?”. “Tia, agradeço a Deus cada atividade feita. E Ele fala comigo —é o que imagino. Quanta pretensão!— nas tantas gratidões alheias —é o que sinto.”
Nada como começar o ano novo na iminência do início do novo ciclo. Faltam dez dias. E parece que tem dez quilos de gelo na minha barriga, que, logo, descerão às botas. As entranhas se misturam com as montanhas.
É tempo de nova semeadura. Viva o lenho do eterno cultivo da herbácea sempre-seara, com nada de aventura, tudo de altura, curiosamente, concomitantemente com a colheita.
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