GUARDEM O HOMEM, ANTES QUE ELE ARME O GUARDA-CHUVA
“Com um tempo assim, é bom levá-lo.”, disse-me ela, estendendo-me o guarda-chuva.
Fazia meses, talvez além de doze, que não caía, sequer —e queria-se—, um pingo d’água. Uma estiagem extrema. Talvez a maior seca histórica. Cursos d’água resumidos a cursos de areia. Seixos rolados parados.
A extinção do homem passa pela inércia das pedras polidas naturalmente. Quando elas não correrem mais, o homem estará lascado.
O guarda-chuva era tão grande que não dava para saber como ele estava imperceptível desde há muito dentro de casa. Eu não o notara no guarda-roupa até ela tê-lo pego de lá e mo entregue.
Não me importei com os tiras. Tirei toda a roupa e saí, pelado na chuva, pulando sem parar. O guarda-chuva na mão direita, fechado, e eu balançando o cabo.
“Com uma destemperança assim, é bom levá-lo.”, disse ela aos guardas.
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