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áfricarrauá

CIÊNCIA E POESIA NO CÉU AZUL NUBLADO

 

Uganda. Dezembro de 2019

 

Quem nunca brincou de imaginar figuras nas nuvens? E, com o dinamismo delas, a imaginação também sendo versátil.

 

Eu passara o dia fotografando nuvens a pedido de um amigo que está fazendo mestrado em meteorologia. E por falar em estudo, veio essa nuvem, que me remeteu a algo especial: boas lembranças dos períodos difíceis da faculdade de Agronomia, em Lavras.

 

Eu tive três matérias na faculdade que me tiraram o sono. E eu aproveitava que estava acordado para estudar, mas o conteúdo insistia em ficar fora de mim. A primeira vez em que as cursei fui reprovado em todas. Foram elas: Meteorologia & Climatologia, do professor Pedrão Trovão; Genética na Agropecuária, sob coordenação do professor Magno; e Construções Rurais, do professor Tião Concreto.

 

Nesse céu, com sua mudança de tempo repentina, o anúncio de uma chuva que veio logo e que foi breve. Desde o início de fevereiro de 2019, quando cheguei em Kanungu, até hoje (mais da metade de dezembro do mesmo ano), não teve uma semana sequer sem chuva. E, desde setembro, quando começou a segunda colheita do ano, teve apenas quatro dias inteiros sem chuva. E a chuva vem assim, repentinamente, no período da tarde. Não vou me estender explicando as conseqüências para as estradas, para o cafezal e para a secagem de café. Porém, ainda estamos na batalha da segunda e principal colheita desse ano: terminando a secagem. Já era para estar tudo seco, entretanto, com essas condições meteorológicas, apenas vinte por cento de toda a produção está seca. Mesmo diante dessas adversidades, nossos cafés pontuaram, até agora, entre 87 e 89 pontos, recordes na empresa desde a sua fundação, e o de 89 pontos é o melhor do país nessa safra. Mudei o manejo da lavoura e os métodos de processamento, e o resultado foi esse: notas recordes para todos os tipos de café. Apesar da dificuldade com Genética, tomo a liberdade poética: “Aqui é uga-nd...a c/ dna(m)agu Paulinho”.

 

Para a dificuldade em Meteorologia, volto à nuvem que vira. Ela tem algo de matemático, de biológico e de poético. Há poesia nessa árvore sombria, nessa nuvem mudando de cor e, não cobrindo totalmente o céu, expondo-o azul numa fatia triangular. Algo encantador.

Nessa nuvem, a imaginação reinou. Contudo, não infantilmente com os desenhos de criança, mas com notas de ciência. Eu fotografara essa nuvem, assim como todas as outras anteriores, para um estudo científico de um amigo. E, subliminarmente, a nuvem veio dar sua lição-contribuição: tem algo duplamente didático, que, pra mim, também soa lúdico. A nuvem expondo, exatamente, quarenta e cinco graus de céu num triângulo reto. Uma nuvem geométrica. E a mesma nuvem num processo de fagocitose. Mas uma fagocitose diferente, que eu chamaria de “fagocitose canibal”, em que fagócito e partícula são do mesmo material. A nuvem abocanhando o floco. Uma nuvem citológica.

 

Uma nuvem matemática e biológica. Geométrica e citológica. Uma nuvem científica. Lúdica e poética. E foi assim, poeticamente, que vi essa Construção sobre o chão Rural.

 

 

 

 

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[foto]

quando: 08Nov2019

onde: Uganda, Kanungu, Nyamiyaga

por: Andalaquim

Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 09/10/2023
Alterado em 10/10/2023
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