A TRIBO DAS SEMENTES IMORTAIS
Uma comunidade com um ritual peculiar: se reproduzir, reflorestar. Uma oração condicional como oração obrigatória.
Nasce um menino. O pai é incumbido de plantar a árvore do seu neto e mais nove árvores nobres.
Quando esse filho vier a ter o seu filho, tal árvore é cortada para fazer o berço do novo rebento. É o avô respondendo a benção, à benção.
Mas nem toda a árvore é usada para a confecção do berço. O restante de sua madeira faz a urna funerária desse mesmo recém-nascido, tão logo parido. Não é um mau agouro a manufatura prematura do ataúde. Pelo contrário, desde o nascimento até ali por um século —é uma tribo longeva, não à toa chamada de Plântulacenta—, é um voto de um cerne de saúde. Verniz nas tábuas e na vida.
O berço não pode ser usado por mais ninguém. É desmontado e guardado dentro do seu par-esquife.
Quando do falecimento desse menino —quase certo sendo um homem de cento e poucos anos e troncos—, retiram-se, do caixão, as peças do berço e coloca-se o corpo recém-passante em posição fetal. As peças de madeira removidas tornam-se, então, a lenha inicial da cremação. As cinzas são guardadas para serem misturadas à cova do próximo plantio do filho do filho.
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