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ALMEIDA: QUANDO NÃO CAGA, PEIDA, E VICE-VENTRE-VERSA

 

A sensação que me liberta,

sempre,

é cagar,

em qualquer lugar

—e sozinho, é óbvio—,

de porta aberta.

É terapêutico.

 

Também cagar em casa,

depois de um certo tempo fora,

mesmo com a porta fechada

—que pena, poderia ser perfeito—,

é maravilha

de outro mundo...

no próprio lar.

“Certo!...
tem um certo exagero.

Às vezes, até sem cheiro.”

 

Mas já experimentou

cagar em qualquer lugar,

até mesmo no mato,

depois de segurar muito?

 

Eu fora encontrar Aninha em Belo Horizonte. Nosso primeiro encontro. Fiquei sexta-feira, sábado e domingo segurando o ventre na casa dela.

 

Fim do final de semana e ela me acompanha até a rodoviária. Quase chegando ao terminal, ela diz que tem algo muito importante pra me pedir. “Se a gente se casar, não quero mudar meu nome.” “Eu mudo de nome se me derem um trono agora.”, pensei, segurando pum e voz, e mantendo ego.

 

Tão logo ela se despediu de mim, corri para o banheiro. Dom Cagão Primeiro! Dá-lo. Depois, penso no ônibus. Correr? Força de expressão. Eu não podia fazer nem uma forcinha —razão do abraço e suor frios—, senão me cagava todo. Mas também não podia andar devagar, pelo mesmo motivo. Quanto mais perto do vaso, mais afoita a bosta, diz a Física. Magnetismo da louça com o cólon, que enxerga fossa por onde passa.    

 

Eu nunca tive intestino preso. E olha que bobeira —hoje, vejo com outro olho— eu o prendendo por besteira. Quase —estava no limite de tensionamento das pregas— faço, na calça, uma bosteira. Isso viria a acontecer anos depois, quase chegando em casa em Uganda. De quase em quase, uma hora sai uma quagada.

 

Voltando à capital mineira, passos na cadência certa, entre malemolência e malemomerda. Passadas rápidas e curtas, tão apertadas quanto o cu naquela hora. Cheguei ao lugar do rei. Nem terminei de sentar e já fui me coroando... até o ponto do nível da bosta ficar acima do nível da água. Dei uma descarga e continuei cagando. Foram mais duas descargas. Dei-me conta: uma pra cada dia.

 

De rei esporádico —mas como foi boa aquela curta, cheia de longos súditos, dinastia— a vassalo do vaso do dia-a-dia. Adivinha de onde rascunhei esse texto? E de mente aberta.

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 01/10/2023
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