RAIO EM MAIO
Ele era conhecido
por interpretar intempéries.
Gostava sempre
de deixar claro,
como céu limpo,
a diferença
entre clima e tempo.
Não querendo dizer
que céu nebuloso
é céu sujo.
É, sim,
dia da lua
de furtar fruto
da árvore alheia,
a mais sutil
das pluviosidades,
que lava a alma
de quem rouba.
É como pegar
uma única flor
—na poesia.
Nas entrelinhas,
bulbo,
nas sublinhas—
no canteiro vizinho
—pedir seria demais
para tão pouco—
pra plantar no nosso.
E ainda receber
a rega natural
de abono,
com um pouco
de adubo.
Chuva era bom
pra vinho
dar suculenta uva.
Ele lia o futuro
ao oposto.
Estiagem
no tempo certo
também é preciso
pra dar bom mosto.
Três estrondos de trovão
não são
três sinais.
São um só:
“ão-um-ó”,
no dialeto
da floresta e da nuvem
é “olá”
entre o índio e o anjo.
Certa vez,
um ciclone
varreu um rancho.
“As tábuas
nasceram
pra serem pontes.”,
foi seu último discurso.
Ele foi
pro outro lado,
raios!
Na verdade,
um só;
o quarto.
“Ão” sozinho
era “tchau”.
Mas nem deu tempo.
Criou-se
um clima ruim.
Ele tinha apenas
trinta anos.
Estranho.
Mas isso passou a ser
normal.
Fez um sol forte
após a tempestade.
Ele ficou conhecido
por interromper intempéries.
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