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RAIO EM MAIO

 

Ele era conhecido

por interpretar intempéries.

 

Gostava sempre

de deixar claro,

como céu limpo,

a diferença

entre clima e tempo.

 

Não querendo dizer

que céu nebuloso

é céu sujo.

É, sim,

dia da lua

de furtar fruto

da árvore alheia,

a mais sutil

das pluviosidades,

que lava a alma

de quem rouba.

É como pegar

uma única flor

—na poesia.

Nas entrelinhas,

bulbo,

nas sublinhas—

no canteiro vizinho

—pedir seria demais

para tão pouco—

pra plantar no nosso.

E ainda receber

a rega natural

de abono,

com um pouco

de adubo.

 

Chuva era bom

pra vinho

dar suculenta uva.

Ele lia o futuro

ao oposto.

Estiagem

no tempo certo

também é preciso

pra dar bom mosto.

 

Três estrondos de trovão

não são

três sinais.

São um só:

“ão-um-ó”,

 

no dialeto

da floresta e da nuvem

é “olá”

entre o índio e o anjo.

 

Certa vez,

um ciclone

varreu um rancho.

 

“As tábuas

nasceram

pra serem pontes.”,

foi seu último discurso.

 

Ele foi

pro outro lado,

raios!

Na verdade,

um só;

o quarto.

 

“Ão” sozinho

era “tchau”.

Mas nem deu tempo.

 

Criou-se

um clima ruim.

Ele tinha apenas

trinta anos.

Estranho.

Mas isso passou a ser

normal.

 

Fez um sol forte

após a tempestade.

Ele ficou conhecido

por interromper intempéries.

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 26/08/2023
Alterado em 27/08/2023
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