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O FETO FATÍDICO

 

__Ele era fluente

    no idioma

    chamado

 

    Sem chama à vista.

    Cada idioma é uma labareda

    —chamam-na de língua de fogo—

    de uma só fogueira.

 

    Sem chama à vista,

    mas muito vivas,

    fechadas no forno de parla,

    exalando fumaça-fala

    pelos olhos,

    pois as narinas estão lacradas

    com algodão

    de antemão.

 

    Sem chama à vista,

    mas altivas,

    queimando

    no intestino-lenho,

    cozinhando órgãos

    pro próprio corpo comer.

    O homem

    é seu próprio micróbio

    de ódio.

 

    Sem chama à vista,

    mas de fervura intensa

    em água interna

    numa briga nada branda

    de duas espadas brancas.

 

    É quando o beiço

    escuda o feitiço

    para que outros

    não o escutem.

 

    Foi a primeira língua

    que aprendeu:

    o silêncio.

 

__Mas

    e o choro

    de quando nasceu?

 

__Foi seu penúltimo

    silêncio

    sincero.

    A penúltima vez

    que veio.

 

    Já alvorara

    tantas vezes

    que,

    instado à última,

    fez questão

    de fazer-se crepúsculo,

    pendurando-se,

    pelo pescoço,

    via vulva,

    no cordão de umbigo,

    no que falariam

    fato fatídico.

 

    Ninguém

    conhecia e esperava

    o termo.

 

    Era um feto sabido.

 

    Mais fluente

    do que nunca.

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 14/07/2023
Alterado em 25/07/2023
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