O FETO FATÍDICO
__Ele era fluente
no idioma
chamado
Sem chama à vista.
Cada idioma é uma labareda
—chamam-na de língua de fogo—
de uma só fogueira.
Sem chama à vista,
mas muito vivas,
fechadas no forno de parla,
exalando fumaça-fala
pelos olhos,
pois as narinas estão lacradas
com algodão
de antemão.
Sem chama à vista,
mas altivas,
queimando
no intestino-lenho,
cozinhando órgãos
pro próprio corpo comer.
O homem
é seu próprio micróbio
de ódio.
Sem chama à vista,
mas de fervura intensa
em água interna
numa briga nada branda
de duas espadas brancas.
É quando o beiço
escuda o feitiço
para que outros
não o escutem.
Foi a primeira língua
que aprendeu:
o silêncio.
__Mas
e o choro
de quando nasceu?
__Foi seu penúltimo
silêncio
sincero.
A penúltima vez
que veio.
Já alvorara
tantas vezes
que,
instado à última,
fez questão
de fazer-se crepúsculo,
pendurando-se,
pelo pescoço,
via vulva,
no cordão de umbigo,
no que falariam
fato fatídico.
Ninguém
conhecia e esperava
o termo.
Era um feto sabido.
Mais fluente
do que nunca.
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