ASSIM FOSSE
Deus me livre
das religiões.
Deus me ligue
aos rincões,
aos ribeirinhos,
aos ribeirões,
sem água benta,
mas água pura,
sem catecismo,
sem extermínio,
sem catacumba,
sem trigo embebido
em sangue
da pior macumba.
Deus me livre
das religiões.
Deus me ligue
aos caipiras,
aos caiçaras,
aos sertanejos,
aos certos,
aos sertões.
Deus me livre
dos incertos,
clero
claramente sem luz
ou artificialmente aceso.
Deus me ligue
aos insetos,
espiritual e naturalmente
iluminados,
pelos-pólens
que espalham,
sem palavras,
com trabalho.
Sem palavras!
Deus me livre
do fogo sagrado,
que queima todos
que não põem palha
no presépio.
Meta-os fora
da igreja.
Deus me ligue
aos aceiros
de subsistência,
de existência,
“Habitarás!
Não matarás!
Rematarás!”
que constroem canteiros
e entoam cantos
de lavrar,
com a própria enxada,
a própria roça...
para o seu ázimo.
Isso sim
é hóstia.
Ah!... se aceitassem
semente como dízimo
e horta como templo...
Isso sim
seria ótimo,
além-(de)-perfeito.
Carpir seria culto.
Colher seria verbo.
Colher pra comungar a substância.
Deus me livre
dos cantos de louvor.
Sou mais o santo e seu suor.
Assim seja...
fora das igrejas.
Assim fosse,
e os suores dos pastores
seriam doces,
como as lágrimas
das imaculadas senhoras
e os sabores
da carne e das entranhas
do anho.
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