aferykawa-tan. Moshi Urbano, Kilimanjaro, Tanzânia—15Out2010
ESPALHANDO AMOR... E SÍFILIS ORAL
Em junho de 2010, recém-chegado à Tanzânia, perguntei a dois colegas de trabalho tanzanianos como saudar gentilmente as moças em suaíle, o idioma oficial da Tanzânia. Eles me ensinaram a seguinte frase: “Nataka demo wa kitanzania.”. Escrevi na minha cadernetinha de bolso e, rapidamente, tornei-me fluente nessa única expressão. Tratei logo de colocá-la em prática. E assim foi até outubro do mesmo ano: eu falava, as moças riam e eu pensava que estava indo bem.
No dia 8 de outubro de 2010, indo para Burundi, decidi armar uma armadilha idiomática para o meu companheiro de viagem, que era um daqueles colegas de trabalho. Estávamos indo a Burundi, mas nenhum de nós falava o idioma local, kirundi, nem o idioma de colonização, francês. Sabendo que iríamos ficar numa cidadezinha e que, vendo um branco, os habitantes tentariam se comunicar em francês conosco, decidi ensinar ao meu colega de trabalho e de viagem a resposta para “bonjour”. Disse a ele que “bonjour” se respondia com uma rima: “tomar no cu”. E assim foi durante três dias: “bonjour” pra lá e “tomar no cu” pra cá; “bonjour” pra lá e “tomar no cu” pra cá; “bonjour” pra lá e “tomar no cu” pra cá. Mas, se pensarmos no sentido do diálogo sem sentido, era “bonjour” pra cá e “tomar no cu” pra lá. Pegadinha inofensiva, porque só eu entendia... e ria.
Mas o troco veio a galope, exatamente uma semana após. Na verdade, o troco já estava trotando há muito tempo, antes mesmo de precisar do troco, e galopou nessa tal uma semana. O “bonjour” foi em outubro. Mas, desde junho, eu carregava e usava aquela frase em suaíle ensinada por ele e pelo outro colega de trabalho, que, segundo eles, era uma maneira educada de saudar moças.
Na sexta-feira seguinte ao “bonjour–tomar no cu”, no prédio mais importante para o café na Tanzânia, a Kahawa House–Tanzania Coffee Board, num treinamento para 60 mulheres com média de idade de 60 anos, atendidas pela Aliança Internacional das Mulheres no Café, uma senhora freira, que cultivava café com suas irmãs (que faziam parte da audiência de sessenta mulheres sexagenárias), me questionou se eu ainda não sabia suaíle apesar dos cinco meses já vivendo na Tanzânia. Eu respondi: “Mimi najua kiswahili kidogo sana bado (“Eu sei muito pouco de suaíle ainda” —pense num trem mal falado; agora, pense em dobro e descarrilado) (aí, como eu realmente sabia muito pouco de suaíle mesmo, tive que voltar ao inglês e ao serviço de tradução), but I know another sentence (“mas eu sei uma outra frase”): ‘Nataka demo wa kitanzania.’.”. Diferentemente das tantas vezes com as moças, só vi expressões de reação esquisitas, que eu não esperava: espantadas, envergonhadas, indignadas. E o tradutor sem saber onde colocar a cara, onde enfiar a frase. Só depois vim a saber que, nesse contexto (nesse prédio e para essas senhoras), eu disse uma gíria que significava “Eu preciso comer uma bucetinha da Tanzânia.”.
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quando: 15Out2010
onde: Tanzânia, Kilimanjaro, Moshi Urbano
por: Thadeus Mrema