aferykawa-gan. Nyakishenyi, Rukungiri, Uganda—2Mar2020
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Minha mãe, Helena, conta uma história em que, quando ela era criança, ela e sua irmã Edwiges foram visitar a tia Marieta.
Café posto à mesa, café servido no copo. Ao ir beber seu café, minha mãe notou uma mosca misturada a ele. Envergonhada de dizer à tia delas que havia uma mosca dentro do seu copo, ela bebeu café com mosca, sob um olhar de nojo da irmã Edwiges. Voltaram pra casa, com a minha tia Edwiges cheia de repugnância da minha mãe, mantendo distância dela e a xingando.
No meu copo de mingau de milheto fermentado (“bushera”), fui premiado com uma dose dupla de mosca. Diferentemente da minha mãe, sem a inocência infantil, pus de lado o copo e já servi mais mingau em outro recipiente.
Volto ao café com mosca. Hoje, tudo pode ser gourmet na cozinha. No terreiro, sinto asco das modinhas de fermentar cafés com tudo quanto é tipo de coisa, sem antes dominar técnicas básicas de um café sem fermentação e de um café fermentado sem agentes externos aos fatores intrínsecos do fruto. Já na cafeteria, não me estranharia ver no cardápio o café com mosca apresentado como iguaria. Não me estranharia justamente porque na última colheita (segunda colheita de 2019) do café de que tomo conta em Uganda, o nosso melhor café, dentre treze diferentes tipos e segundo provadores internacionais, foi o que justamente foi contra todas as recomendadas boas práticas de pós-colheita, ficando, ao fim da longuíssima secagem e excessivas fermentações não controladas, com o pergaminho, que é naturalmente bege, totalmente preto, fedendo a podre.
Imagine só: de um café de pergaminho preto (e podre!), obtêm-se grãos pretos (excessivamente torrados para esconder defeitos), extraindo-se deles um líquido negro, que se harmoniza com moscas inteiramente pretas.
Tudo tão indelicadamente feito que preenche o cardápio como um perfeito novo conceito da ‘glamoscarização’ da xícara.
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[foto]
quando: 2Mar2020
onde: Uganda, Rukungiri, Nyakishenyi
por: Andalaquim