aferykawa-gan. Kanungu, Uganda—16Jan2020
DIFERENTES, NO MESMO SENTIDO AO MESMO DESTINO
Guiar-me-ei como indo da minha casa, em uma vila, ao local de trabalho, em outra vila.
O destinO nO sentidO dO sOl nascente. SigO a leste.
Se choveu na noite anterior, o caminho mais fácil fica inviável, extremamente escorregadio em uma de suas partes, numa descida íngreme que termina numa ponte. Tem-se, então, que usar o caminho chamado “estrada de trás”. Esse é um pouco mais curto, mas mais difícil de se percorrer. É, no entanto, mais interessante: bonito, estreito, sinuoso entre sobes e desces, bordas densas, pouquíssimo movimento. Nele, há também uma ponte, sobre o mesmo rio da primeira, ao fim de uma descida que se dá sobre pedras.
Além de serem inteiros de terra (desconsiderando-se os três trechos sobre rochas do segundo), os dois trajetos guardam mais coisas em comum: o começo e o fim. Antes da primeira bifurcação e depois da segunda são um só.
Trilhar apenas o trecho entre o início e o final é o trabalho que dá mérito ao meio. É preciso traçar inteiro pra merecer igual.
Viemos do barro. Comemos da terra. Somos sepultados. Não somos sós nesse solo. Não somos só desse solo.
O caminho de terra é diverso, e, ao mesmo tempo, comum. Eis o rio que corta os dois. O passo é de cada um. Eis cada ponte em seu ponto.
Longo, fácil e não tão bonito. Curto, difícil, porém mais belo. E o tempo pra percorrer um ou outro é exatamente o mesmo. Eu deixo a chuva ou a estiada decidir por onde desço, em que trecho do rio eu cruzo. Seja qual for, sigo a este.
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[foto]
quando: 16Jan2020
onde: Uganda, Kanungu
por: Andalaquim