aferykawa-gan. Kanungu, Uganda—11Dez2019
INSETOS, INSPIRAÇÃO
O escaravelho-sagrado foi um amuleto muito popular no Antigo Egito, ganhando ares de mitológico.
No contemporâneo biológico, temos o besouro rola-bosta africano, que também merece ser chamado de sagrado, disseminado ao redor do mundo para tarefas ecológicas. Sobre o rola-bosta africano, eu tenho uma doce lembrança. Quando meu pai —Paulinho Almeida— recebeu a visita da revista Globo Rural por ocasião de ele ter sido campeão —com a maior nota oficial, histórica e mundial até hoje: 97,53 pontos— no maior concurso de cafés de qualidade do mundo —o Cup of Excellence Brazil 2001—, eu fiquei com ele a visita-entrevista toda. A repórter Sula era nossa conterrânea. E foi a ela que meu pai explicou sobre o besouro rola-bosta africano, cujo um espécime acabáramos de ver e cuja população era notável na nossa fazenda desde que tinham sido intensificados os manejos ecológicos das pastagens, dos cafezais e de outras culturas anuais. Foi quando Sula brincou: “O título da matéria vai ser ‘A Volta do Vira-Bosta’.”. Naquele dia, aprendi com meu pai e com a repórter.
Mas nem o mitológico nem o ecológico. Não sei como definir o besouro da vez, que, talvez, até possa ser a mistura dos dois.
Patas geralmente remetem a algo grosseiro, enquanto que asas carregam um simbolismo sutil. Eis que no besouro da vez isso se inverte: patas sutis e asas grosseiras. Inseto, inversão. E eu acrescentaria: interface entre texturas da natureza: sob as patas sutis, a dureza das pedras; sobre as asas grosseiras, a leveza das gotas.
Pisando em pedras e carregando gotas: é assim que enxergo a agricultura que pratico nesse solo, que é pura rocha, em que trabalho agora. Um solo extremamente superficial, em que os insetos nos ensinam a ter a obrigação de uma tarefa sublime: sermos instrumentos para a conexão das interfaces.
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[foto]
quando: 11Dez2019
onde: Uganda, Kanungu
por: Andalaquim