aferykawa-gan. Uganda—13Out2019
A ALMA DE AGAMORU
Quando adolescente, eu tinha um sonho ilusório: recompor todas as matas ciliares cortadas dos cursos d’água que cortam minha cidade natal, em especial os rios Sapucaí-Mirim e Capivari.
Não bastasse começar a sonhar, a semente da ilusão ia adiante. Uma vez as margens dos rios reflorestadas, eu me imaginava numa canoa navegando por eles, vendo a úmida e densa população arbórea e arbustiva e sentindo, satisfeito, os rios sorrindo, caudalosos e cristalinos.
A ilusão germinava, não parava, seguia em frente. Eu me imaginava já batizando a canoa com um nome que soa saído de uma das línguas dos povos que protegem as florestas: “Agamoru”, composto de “amor” e “água”. Vindas da árvore, a canoa e a água. Vidas da árvore, juntas, fluidas.
O sonho das matas ciliares realizei dentro da possibilidade real e não da ilusão. Com meu pai e seus colaboradores, recompusemos toda a vegetação das margens das nascentes de água da fazenda de meus pais e tios.
Já o sonho da canoa sinto que realizo a cada verso navegado, no curso das palavras, protegidas por letras ciliares, desaguando e se encontrando em poemas que são mares. A cada composição, plantios... não nas margens, mas dentro dos rios. Assim, se compõe A Alma de Agamoru e o espírito do povo que com ela sangra e singra.
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[foto]
quando: 13Out2019
onde: Uganda, Parque Nacional Impenetrável de Bwindi
por: Andalaquim