CHUVA E CHAVE
Há vida
no veneno mortal da víbora,
do falecimento lento,
no vôo predatório da vespa,
que mina o que mina a folha.
Há vida,
veja,
nas entrelinhas e entre vírgulas,
como no inseto inseticida,
nos comas entre mandíbulas.
Alegrar-se
com esse entretecer-se,
a não ser
que se seja a presa.
Há vida
inserida
(e não)
entre parênteses
e dentro d’aspas.
Jamais
fora da folhagem:
fotossíntese.
Da linguagem.
Há vida
nas letras;
às vezes, na língua morta, latim;
às vezes, na palavra torta, itálica,
curvada
de tanta dor nas costas,
de tanto se repetir.
Há vida
repetida
(e não)...
reformulada, reformada.
A vida
repetida
em sua forma resumida:
cíclica.
No entanto,
nada tão alvo,
tão vivo,
quanto
“viv’alma”,
em o, no,
vôo
pairado, parado,
panorâmico, biodinâmico,
do apóstrofo,
predatório que suprime... pecado,
pontuado que exprime... evangelho.
Que sublime
é
o pingo d’água.
/-\|\||)/-\|_/-\(,)|_|||\/|