AMOR E ÓDIO, ENTRE(M)
Eu amo, vírgula...
a ponto de dizer “Ai que ódio daquela ali!”.
Eu a amo, vírgula!
Odeio
vê-la
entre o sujeito e o predicado;
complemento,
entre o verbo e o objeto:
gula,
no jeito perfeito do pecado.
Palavras comprimidas
espremidas
exprimidas
não tomadas com precaução
entre comer para viço e para vício.
Há algo de guloseima na víscera
que nos faz devorá-la crua
ansiosamente
até a ânsia.
Há algo de guloseima na víscera,
que nos faz devorá-la crua,
menos ansiosamente do que antes,
até a ânsia.
Assim
é a língua, a vírgula
em demasia.
Mas nem tudo é desperdício
no vômito.
Lamber o excesso de açúcar
—regozijo—
com gosto azedo de esôfago
—regurgito.
“Veneno, verbo, pontuação!”,
eis o grito.
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