O SERESTEIRO E O SERELEPE
Como pode
algo estridente
não ser o som
do atrito entre os dentes?
O trilo do grilo:
estridulação:
saído d’asa,
pelos pêlos da perna,
alcança
além do seu salto.
Aos quatro cantos canta!
Como pode
a onomatopéia desse ortóptero
—só isso já é uma ópera—
ser cricricri ou tritritri
e não grigrigri?
Incomum também soa
o que o som do grilo
faz no menino
ou
traz ao menino
ou
paz ao menino.
Agudo,
ardido,
estridente.
Mais pontual do que sino.
Escondido de dia,
põe-se a gritar
—é isso: esse grilo grita—
tão logo
cai a noite
—pra mim,
o certo seria
“quando se derruba o dia” —
e,
como num salto de mágica,
hipnótica música da asa,
o meninoitece,
vítima
de onomatosopetão.
Um golpe certeiro,
meio tapa da asa,
meio chute da pata.
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