Textos


O SERESTEIRO E O SERELEPE

 

Como pode

algo estridente

não ser o som

do atrito entre os dentes?

 

O trilo do grilo:

estridulação:

saído d’asa,

pelos pêlos da perna,

alcança

além do seu salto.

Aos quatro cantos canta!

 

Como pode

a onomatopéia desse ortóptero

—só isso já é uma ópera—

ser cricricri ou tritritri

e não grigrigri?

 

Incomum também soa

o que o som do grilo

faz no menino

ou

traz ao menino

ou

paz ao menino.

 

Agudo,

ardido,

estridente.

Mais pontual do que sino.

 

Escondido de dia,

põe-se a gritar

—é isso: esse grilo grita—

tão logo

cai a noite

—pra mim,

o certo seria

“quando se derruba o dia” —

e,

como num salto de mágica,

hipnótica música da asa,

o meninoitece,

vítima

de onomatosopetão.

Um golpe certeiro,

meio tapa da asa,

meio chute da pata.

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 20/11/2021
Alterado em 07/03/2023
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