Textos


NÃO CABE, NÃO DIGO

 

Conversava com o camponês

como dialogava com o doutor.

 

O mendigo, o médico, o mercador.

O mesmo.

 

Ouvia o pobre que trabalha duramente

com a mesma atenção

do milionário que sonega arduamente.

 

Da senhora que lava pratos

ao senhor que lava dinheiro,

havia diferentes águas,

como os telhados

de suas moradas.

 

Num mesmo dia,

ouviu desejos de choupana

vindos da mansão

e sonhos de mansão

oriundos da choupana. 

 

Pensou:

“Caber aquilo tudo na cabana?

Pensando bem, nem enche.

Encontrar paz no palácio?

Nesse meio, nem se mede.”. 

 

A mansidão e a imensidão.

Um lugar

conseguia ter um e ser o outro.

Alheio a tudo,

o lugar tinha três letras:

ego.

Não alheio a tudo,

o lugar era do mesmo tamanho:

céu.

 

Por falar em céu,

ao conversar com todos eles,

nunca falava de Deus.

Testemunhava relatos de fé

e era confidente de depoimentos descrentes.

Em nenhum momento,

pontuava (é ponto) ou

discorria (é infinito)

sobre o Divino.

Sabia escutar o outro.

Nada além.  

 

Ao morrer,

escutou:

__É certo que não falou de mim a ninguém.

    Mas ouviu os meus o tempo todo.

    Eu vi.

    Deixe-o vir a mim que sou aqui

    e os vizinhos.

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 25/08/2021
Alterado em 14/02/2023
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