Textos


E AINDA PONHO AÇÚCAR

 

Falaram-me

da cor palha.

 

Amarelo opaco?

Laranja fraco?

Marrom bem claro?

 

Essa coisa

de dar nome de coisa

à cor

leva o texto

a ter textura,

toma corpo de corfusão.

 

Junto as três

numa vírgula

e num e?

Ou as separo

numa vírgula

e num ou?

 

“Num ou”

soa

como o fim de “marrom”.

 

Vou falar do laranja.

A laranja é laranja

porque tem a cor laranja

no sumo dos seus gomos?

Ou o nome da cor

é porque se parece

com o matiz do miolo

dessa fruta madura?

O que veio primeiro:

o pericarpo ou o pigmento?

Nesse caso,

contento-me com a casca...

amarela.

 

Palha

tem cor de trigo.

Traga-me o pão,

portanto,

que vou comer

tomando o suco

que já está pronto.

 

Eu preferiria café.

Mas o pão

não mais derreteria a manteiga

ao esperar processar

o verde,

o amarelo,

o laranja,

o vermelho,

o marrom,

o bege

e o cinza.

 

Não pela faina do processo.

Adoro o trabalho que o café dá e o café que o trabalho dá.

Mas pelo fado do poema.

 

Paradoxalmente,

com xis de xícara,

na pressa,

deixo um tempo a mais

na torra.

Na prensa,

um tempo a mais

com a borra.

Falhas nos processos.

Empurro tudo

a um precipício preto. 

 

A asa da xícara

trataria de trazer

o arco,

mas já não faz mais sentido.

 

Trago do copo.

 

 

 

 

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[foto]

quando: 26Nov2020

onde: Uganda, Kanungu, Nyamiyaga

por: Andalaquim

Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 03/12/2020
Alterado em 05/10/2022
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