É PAPEL, É PAPEL. É FOLHA, É FOLHA. É LÍNGUA, É LÍNGUA...
Eu pauso
o poema na cabeça
enquanto não posso pô-lo
no papel.
Ele pulsa
esperando
o próximo passo.
Já eu
fico faminto
por um pedaço de papiro,
que, logo,
terá novo papel.
Sou traça e traço.
Papel
é uma palavra leve.
Esse e e esse ele
que terminam num
no início
—papel—,
se invertem
e começam noutro
no final
—leve—
têm elevado valor
de elo singelo.
Engrenagem
hábil e bela.
De tão sutil,
nem sangra,
embora receba corante
e, com a luz do lápis
—a caneta é carne—,
cumpre seu papel de clorofila,
fazendo-se função...
essencial.
Enquanto o papel não vem,
penso que ele é um pássaro.
A pena,
que encarnaria como caneta,
é, na verdade,
o poema.
Alma e carne se confundem.
Língua de beija-flor,
que,
parado no ar,
se assemelha à folha
sem pecíolo,
que se sustenta
só-mente
—talvez seja o hífen
o tal talo perispírito—
com o vento.
Eu pouso o poema
em pleno vôo.
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