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É PAPEL, É PAPEL. É FOLHA, É FOLHA. É LÍNGUA, É LÍNGUA...

 

Eu pauso

o poema na cabeça

enquanto não posso pô-lo

no papel.

 

Ele pulsa

esperando

o próximo passo.

 

Já eu

fico faminto

por um pedaço de papiro,

que, logo, 

terá novo papel.

Sou traça e traço.

 

Papel

é uma palavra leve.

 

Esse e e esse ele

que terminam num

no início

—papel—,

se invertem

e começam noutro

no final

—leve—

têm elevado valor

de elo singelo.

 

Engrenagem

hábil e bela.

 

De tão sutil,

nem sangra,

embora receba corante

e, com a luz do lápis

—a caneta é carne—,

cumpre seu papel de clorofila,

fazendo-se função...

essencial.

 

Enquanto o papel não vem,

penso que ele é um pássaro.

A pena,

que encarnaria como caneta,

é, na verdade,

o poema.

Alma e carne se confundem.

 

Língua de beija-flor,

que,

parado no ar,

se assemelha à folha

sem pecíolo,

que se sustenta

só-mente

—talvez seja o hífen

o tal talo perispírito—

com o vento.

 

Eu pouso o poema

em pleno vôo.

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 03/12/2020
Alterado em 21/02/2023
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