COM OLHOS DE ÓRBITA
Um pássaro com uma perna sem o pé ainda pode voar. Ainda que sem ele, galga vôos entre os galhos, entre os galhos e o chão. Afinal, ainda há asas.
Para o pouso, uma pequena imprecisão. Para a caminhada, um mínimo descompasso. Já para o vôo, um apuro alado absoluto acima de tudo.
Manca quando pisa, expressando a falta do pé. Mas marca-se mais quando voa. Rouba a cena, emprestando-lhe a pena, dando asas à imaginação e uma mão à inspiração. Pata essa que arranca e pega uma pena na asa do lado contrário ao pé que falta. Não sente pena. Afinal, é lhe devolvido o equilíbrio perdido.
A perna deficiente toca um galho inexistente. E ali ele pousa, pára, paira... no aprumo das ausências do pé e da pluma.
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