Textos


A NATUREZA DA BELEZA

 

tropeço e abraço

 

Ela diz que se acha

menos bonita

do que eu.

 

Prometi a ela

provar a ela

que ela é bela,

com comparações.

 

Posso complicar-me no início

e tropeçar na promessa no meio,

pra cair de joelhos

nos braços dela no fim.

 

muito meiga e mais amiga

 

Ela é feinha,

mas é lindona.

 

Meiguíssima

e amicíssima.

 

É como ter

a companhia do açúcar do néctar

e do perfume da pétala,

que se sobrepõem

ao feitio da flor.

 

partilha inteira, cessão intensa

 

Partilho meu peito.

Ela cede seu colo.

E, assim,

a gente não se entende:

ela quer o meu peito

no mesmo momento

em que quero o seu colo.

 

Dessa forma,

nova forma,

a gente se entrelaça

e se enrola. 

 

estrela do mar

 

Novo novelo

num novo enredo:

relação de ostra com pérola,

em que eu sou a ostra,

ogra,

e ela, a pérola,

fina.

 

Na nova trama,

nós, agora,

desentendemo-nos de novo:

contrario a versão dela

dita nos três primeiros versos.

 

Ela só é feinha

se vista bruta

dentro da casca dura minha,

que, pra ela,

digo, pra pérola,

digo, pras duas,

digo, pra uma,

pois a ostra não tem outra,

é um peito macio,

reflexo do colo dela.

 

cristal que não se quebra

 

Flor. Grão.

Grão. Flor.

Mesmo que de areia. 

 

É dessa maneira

que a natureza dela

é nada mais

do que dela mesma,

do que bela mesmo,

sem comparações.

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 04/09/2020
Alterado em 13/02/2023
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