A NATUREZA DA BELEZA
tropeço e abraço
Ela diz que se acha
menos bonita
do que eu.
Prometi a ela
provar a ela
que ela é bela,
com comparações.
Posso complicar-me no início
e tropeçar na promessa no meio,
pra cair de joelhos
nos braços dela no fim.
muito meiga e mais amiga
Ela é feinha,
mas é lindona.
Meiguíssima
e amicíssima.
É como ter
a companhia do açúcar do néctar
e do perfume da pétala,
que se sobrepõem
ao feitio da flor.
partilha inteira, cessão intensa
Partilho meu peito.
Ela cede seu colo.
E, assim,
a gente não se entende:
ela quer o meu peito
no mesmo momento
em que quero o seu colo.
Dessa forma,
nova forma,
a gente se entrelaça
e se enrola.
estrela do mar
Novo novelo
num novo enredo:
relação de ostra com pérola,
em que eu sou a ostra,
ogra,
e ela, a pérola,
fina.
Na nova trama,
nós, agora,
desentendemo-nos de novo:
contrario a versão dela
dita nos três primeiros versos.
Ela só é feinha
se vista bruta
dentro da casca dura minha,
que, pra ela,
digo, pra pérola,
digo, pras duas,
digo, pra uma,
pois a ostra não tem outra,
é um peito macio,
reflexo do colo dela.
cristal que não se quebra
Flor. Grão.
Grão. Flor.
Mesmo que de areia.
É dessa maneira
que a natureza dela
é nada mais
do que dela mesma,
do que bela mesmo,
sem comparações.
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