PROTAGOTISMO
Se na nuvem
há água…
Espere um pouco.
Espere um ponto.
Eu já fui para esse lado das reticências.
Permita-me,
agora,
ser dois pontos
seqüentes
.
.
.
cadentes.
O trema procria
ao cair.
Veio-me uma idéia aguda
—dessas de dar pontada—
de dar uma pontuada
e vi-me obrigado
a segui-la.
Se na nuvem
há água
e nisso
tem dois acentos agudos
seguidos,
é porque
já começou a precipitar.
E cada gota
gera quatro gotículas d’água oblíquas miúdas.
E de gotícula d’água oblíqua miúda
em gotícula d’água oblíqua miúda
forma-se a chuva,
com direito a um pingo irrelevante
e um apóstrofo no meio,
que se acha pomposo
pensando ser raio,
mas mal sai o som
de ribombo do trovão.
Ouve-se apenas um traço de ruído,
engolido pelo ponto
a que quero chegar,
em que o protagonismo
que
há
é
todo do rastro da gota,
que só o circunflexo
é capaz de deter.
Porém,
ele não apareceu
em lugar algum
até aqui.
A rotina
de deixar o guarda-chuva
por aí
e se abrigar
no primeiro telheiro
que se vê.
Choveu...
.
.
.
até encharcar o papel.
Mesmo assim,
deu tempo
—desses tempos que se vão—
de registrar o chuvisco de início,
antes do tempo
—desses tempos que se nuvem—
descarregar a chuva
quase que toda
num só momento e ponto
—era o ponto que eu via, ora,
e o momento que eu estendo até onde entendo, hora—,
ao que eu assisti
na providência
de um assento
antigo e esquecido,
pôsto num alpendre.
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