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MISTURA DE ÁGUAS DOCE E SALGADA

 

Se na nuvem

há água,

talvez nela

haja peixe.

 

Deixe-me

imaginar...

peixe-me mar.

 

E como o peixe

age nela?

Nada ou voa?

 

Uma nuvem,

uma lagoa.

E os peixes

se misturam, se transformam, se transmutam,

uns até se multiplicam,

com o meio:

tornam-se gotas

das próprias águas

em que estão imersos. 

 

Os milagres

do desaparecimento dos peixes

que não existem

e do adensamento do mar

onde eles estão. 

 

Uma única gota d’água

—tipo apóstolo, tipo apóstrofo—

no oceano

leva até três mil anos

para evaporar,

e nove dias na atmosfera

antes de se precipitar.

Um legítimo milagre

da ressureição,

tal qual o outro único desse:

o do Cristo em carne

que criava peixes.

Nada de reencarnação.

Por outro lado,

por muitos nados,

as reencarnações

do peixe,

que,

ao curso de milhares de águas,

torna-se terra,

com setenta por cento de umidade:

barro.

 

Sem precipitar nem evaporar,

nem sem fé nem com fé,

me afogo

me imaginando navegar

na água que há

escondida na nossa cara

e evidente na nossa carcaça. 

 

Olho para trás

pra ver se enxergo o destino,

e acabo lambendo o leme.

A água

tem que ser reposta.

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 25/08/2020
Alterado em 16/03/2023
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