DUAS ASAS. DOIS PÓLOS
Uns, berros. Outros, bramidos.
Uns, urros. Outros, sussurros.
Uns, gritos. Outros, gorjeios.
Uns, risos. Outros, roncos.
Tem de todo tipo
e vem de todo canto.
Na alvorada,
o ápice do alvoroço.
Todos os tons
ao mesmo tempo.
Beleza? Bonito?
Não! Bagunça!
A alvorada
tem que ser algo ameno,
sem algazarra.
Onde já se viu
essa zorra de pio?
“Mas você mora na floresta.
Seu privilégio é sua orquestra.”
Vou tentar ver
por esses olhos,
portanto.
Sou só ouvidos.
Concentro-me
e ouço os assobios,
que, daí,
me dão arrepios.
É então que,
de olhos fechados,
sou levado a ver
que é tudo,
na verdade,
lindo.
Acende em mim
uma chama.
Ascendo-me
com duas asas.
Mas sou pássaro mudo,
que muda.
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