aferykawa-tan. Moshi Rural, Kilimanjaro, Tanzânia—29Nov2011
A TRAMELA DA ALMA
Eu observava o semblante da senhora. Qual seria a face dela? Séria? Compenetrada? Parecia que tinha os olhos num lugar e o pensamento noutro. Divagante! Era a impressão que a expressão passava. De repente, algo lhe chamou a atenção, tirando-a dos dois lugares.
O semblante, antes fechado, abriu-se num sorriso feliz e fascinante de um riso fácil. Se é que há sorriso que não seja alegre e atraente. É que esse era arreganhado, que, apesar de se delimitar nos cantos e junções dos lábios, tomava conta da cara toda. Escancarado. Não havia mais espaço para a testa, olhos, nariz, bochecha e queixo. O sorriso, no rosto da mulher aldeã, num latifúndio contrastante e contraditório, apropriou-se de tudo, à mostra na superfície numa revelação profunda.
Diz-se que os olhos são as janelas da alma. Ela tinha a tramela destrancada e decorada com a fita cor-de-rosa da gengiva.
No semblante distante, eram dois lugares distintos. No sorriso presente, a garra e a graça femininas da camponesa.
/-\|\||)/-\|_/-\(,)|_|||\/|
__________
[foto]
quando: 29Nov2011
onde: Tanzânia, Kilimanjaro, Moshi Rural
por: Andalaquim