ONDE SE ESCONDE O TREMA
Trataram o trema
como trapo.
O tratado de abolição:
um trauma
pro trema e pra mim.
Eu ainda não superei.
Ele sim,
numa genialidade
de se apresentar sem se mostrar,
e numa grandiosidade
de voltar sem se vingar.
Um cara de carácter.
Diferentemente
da resiliência do trema,
eu me enchi
de indignação,
e,
no ápice desse sentimento,
veio a rebeldia com a língua
e eu passei a chamá-lo
do que eu queria,
pois eu o queria
e ainda o quero:
ponto, acento,
cifra, código,
símbolo, elemento,
marca.
É isso!:
marcante,
pela fácil visibilidade
quando antes:
dois olhos felizes
sobre os lábios sorridentes
da letra u:
ü.
Vejamos!,
e o ponho inclinado para baixo
—vejamos:
dois pontos
com um traço de personalidade
interessante
quando agora:
a teima
sem ser insistente.
Ele foi excluído,
mas continua presente
por vontade própria
e com inteligência peculiar.
Camuflado,
mas enxergado
por quem tem olhos no tema.
Cortaram-no,
mas ele segue firme
em sua sutil jiade,
num exemplo tocante e notável
por quem tem visão da trama.
Aleijado,
mas rijo.
E atuante
nos minuciosos movimentos
de beijos
em suas pronúncias intocáveis:
eloquentes de bitoca
dados por ele
e eloqüentes de língua
retribuídos por mim.
Tijolo a tijolo,
o trema
se reconstrói.
De feijão em feijão,
se fortalece.
E, novamente,
se regozija,
realizado
em seu esconderijo.
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