CABEÇA DE PALITO
Numa seqüência só.
O cipó o agarrou pelo pé,
ele se desequilibrou,
bateu a cabeça no caule
e se arranhou nos espinhos do pau.
Leves hematomas,
que,
superestimados pela raiva que o tomou,
transformaram-se em doloridos ferimentos,
que levaram-no a pensar:
“Esse mato
quer-me morto.
Mas a vingança
é um prato
que eu sirvo quente.”.
Mas,
antes do castigo em fogo efêmero,
os derradeiros dizeres.
De certa forma,
o cipó
só queria caminhar junto,
de braços dados pelo pé.
O caule
só queria dar uma saudação fraterna de cernes,
tocando testa com tronco.
Mas o espinho...
O espinho
era iniciante
no campo
de relações.
Ele fora designado pela raiz
mensageiro dela na superfície
para buscar uma relação profunda
que começasse pela pele,
mas o espinho entendeu
“que cortasse pela pele”.
O cipó
é que teve culpa de tudo.
No entanto,
ele falava que a falta mais grave
fora do espinho
pois foi com ele que teve sangue.
Já o espinho
se defendia
se dizendo
inexperiente e inocente.
Da fúria à chama à cinza
foi tudo de cabeça quente.
Um ato tão pontual
quanto encostar num espinho,
com conseqüência tão devastadora
quanto arrancar a rosa.
O derramamento de algo seco.
A frieza de algo quente.
Bastou uma faísca
para não restar um bastão.
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