DENTES DE PÉTALA BRANCA. PELE DE PÉTALA PRETA
Ele a admirava
e a queria,
não pela satisfação
do desejo de tê-la,
mas para viver inebriado
no delírio
causado pelo seu brilho.
Num reflexo,
declarou-se.
Ela reagiu
pedindo um poema.
Ele era poeta.
“Mas poema
não é assim
que funciona.”,
tentou explicar o escritor.
Pedir poema
é pior
do que pedir dinheiro,
pois o escriba
considera o verso
mais valioso
do que a pecúnia.
Portanto,
é pecado ao poeta
ter trova
como moeda de troca.
Porém,
o pedido tocou,
mais profundamente,
o já tocado
coração do compositor.
E, quando isso acontece,
é como acender luz na letra
e virar a ampulheta.
Está valendo —a pena— criar.
Viu-se, então,
o autor
trocando, sim,
verso de valor
por sorriso
tão ou mais
precioso.
Sorriso branco
em pele preta,
no mesmo tom da veste.
Ela queria ser o contraste
da inspiração do vate.
Poeta e Preta:
uma troca de O por R
e vice-versa,
pontual e igualitária.
Harmoniosa, portanto.
Mesmas posições,
com as mesmas composições.
Era o destino cruzado, traçado, escrito.
O poeta, nessora,
prometeu atender o pedido dela.
E vire verso,
trocando o O de Onírico
pelo R de Real.
Pra começar,
ele a nomeou
“Rainha do Adorno do Ébano”,
pra ver se, assim,
a inspiração vinha.
Vinha!...
era isso que ela tinha.
O tom de uva tinto
e o sabor de vinho branco,
preferidos do poeta,
que se embriagou
só de imaginar.
Embriagou-se,
só
—a rainha viria—,
ao imaginar.
Da inebriação à inspiração,
ela já fazia
jus à coroa.
O poeta,
mais uma vez,
prometeu;
dessa vez,
que jamais a tiraria do trono.
Um poema
docemente tirano.
Eternizada em majestade,
ela tornou-se
a flor soberana sem sono,
que é tipo
flor que nunca murcha.
Eterna turgência,
num pedaço de cédula.
Perfeita em seu papel.
A rainha do adorno,
inflorescência insone,
o ébano enfeitando folha.
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