aferykawa-tan. Lago Tanganica, Kigoma, Tanzânia—13Jul2010
SABER E SINGRAR
Uma imensidão de água
e um homem só
a singrar.
Seria
um solitário navegante errante
ou
um aventureiro domador de barco e mar
?
Em pé na canoa,
que não pode empenar,
será
que ele caminha?
Ou apenas se posiciona
buscando prumo?
Há uma razão
pra esse homem sozinho
rasgar o rio, sem desmanchá-lo,
explorá-lo sem manche e sem manchá-lo,
desbravá-lo com suave e vigorosa bravura.
Observo o homem.
Desconheço a razão.
Sei que,
não à toa,
segue seu rumo
no comprido, fundo e largo lago,
que se sente importante
ao ser singrado
e ganhar ares de mares.
Segue errante
com uma postura precisa,
que me leva a pensar
que esse solitário marinheiro,
sem saber,
transforma
o espelho líquido
em chão batido
refletido,
e transporta areia às gotas
e traz brilho aos grãos.
É por causa dele,
mas ele não sabe,
que há areia debaixo da água
e há água batendo na areia.
Ele,
sem saber,
é criador de elemento
e desenhista de paisagem.
Ele
pode até ser,
também sem saber,
o próprio elemento
e a própria paisagem.
Não sabe,
e a água não conta
e a areia não fala.
Escondem do homem
a identidade dele de Deus
e a genética de arca da canoa.
Só conversa com o vento.
Só, conversa com o vento:
__Aquele sopro a favor,
por favor,
pra me ajudar a seguir.
O sopro o singra.
Ele agradece o impulso,
que considera sagrado.
Passa um tempo sem vento,
e ele volta a dizer:
__Vamos lá...
a partir daqui.
Agora de novo.
Confio em ti,
como santo,
como sempre.
Nessa nossa conversa,
do seu jeito,
me responda.
Não falha.
Vem em forma de onda,
que é quando o navegante e sua canoa,
sintetizados em homem,
sem eu saber
onde,
se escondem discretamente
no verbo da des-criação:
somem,
engolidos, horizontalmente,
pelo ego do lago que eles mesmos alimentaram.
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[foto]
quando: 13Jul2010
onde: Tanzânia, Kigoma, Lago Tanganica
por: Andalaquim