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MUDOU O SANTO, O VENTO, O SEU SOPRO E O SEU CANTO

 

O vilarejo se chamava São José da Ventania. “São José” era por causa do padroeiro. Mas por que o padroeiro era São José? Pouca gente sabia. O Ventania era óbvio: ali, tinha vento todo dia, que vinha lambendo tudo desde lá de cima, onde estava a capela com uma imagem do santo.

 

Uma noite a imagem sumiu. Pra onde foi? Ninguém viu! No fim de tarde anterior, tinham fechado a capela com ela dentro. Abriram na manhãzinha seguinte e, misteriosamente, não havia mais santo na igrejinha. Aquilo intrigou muita gente. Um ar de mistério, com brisa oculta, se instalou. A notícia do sumiço rodou a vila em instantes, o que não era difícil. Também fácil foi a decisão: um grupo de moradores, sem muita representação, debaixo de um pé de manga no centro da vila, decidiu que a imagem de São José seria substituída pela de São Pedro, presente que uma moradora beata havia recebido recentemente e, feliz, se dispôs a ofertar para o altar.

 

São Pedro, o santo do tempo, levou pouquíssimo tempo para se manifestar. Parece que não gostou tanto da indicação. Ou gostou tanto que, contente, não se conteve e passou da conta, fazendo jus ao cargo que ocupa. Se empolgou. Exagerou. Já no fim de tarde daquele dia, a ventania se tornou vendaval e durou a noite toda, com direito a agudos assobios. E, como primeiro ato, testemunhado logo na manhãzinha seguinte, varreu a terra que havia sob e ao redor da mangueira de onde saiu sua nomeação.

 

 

 

 

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[foto]

quando: 15Ago2010

onde: Tanzânia, Kigoma

por: Andalaquim

Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 09/05/2020
Alterado em 05/10/2022
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