NA GAVETA(,) SEM ETIQUETA
Muita papelada na mesa,
espalhada.
Começo do orbe.
Abro a janela.
Vem o vento.
Vão-se as folhas.
Papelada no chão,
muito espalhada.
Fim do mundo.
Passa-me uma linha no pensamento,
que eu ponho
no único papel
que permaneceu:
“Pro começo do orbe?
Sobe!
Pro fim do mundo?
Siga ao fundo!”.
Mas nem começo nem fundo.
Coloco tudo
na gaveta do meio,
atmosfera,
que ganha ares
de gavet cetera.
Enfio,
enfim,
um fim
contínuo
—“uma hora eu continuo e termino”—
que tudo
[ali]
tem,
e se prolifera,
espontaneamente,
enquanto
existe ar,
tem ar,
há ar
—ele está diminuindo;
dá até pra ouvir
um tipo de sussurro.
É por isso
que,
de tempos em tempos,
como agora,
eu abro a gaveta...
não pra rever anotações,
mas pra que elas respirem.
É meus papéis.
Assim mesmo,
sem concordância.
Só sai de lá
—ou só sai daqui?—
quando concordarmos.
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