Textos


NA GAVETA(,) SEM ETIQUETA

 

Muita papelada na mesa,

espalhada.

Começo do orbe.

 

Abro a janela.

Vem o vento.

Vão-se as folhas.

 

Papelada no chão,

muito espalhada.

Fim do mundo.

 

Passa-me uma linha no pensamento, 

 

que eu ponho

no único papel

que permaneceu:

 

“Pro começo do orbe?

Sobe!

Pro fim do mundo?

Siga ao fundo!”.

 

Mas nem começo nem fundo.

 

Coloco tudo

na gaveta do meio,

 

atmosfera,

 

que ganha ares

de gavet cetera.

 

Enfio,

enfim,

um fim

contínuo

—“uma hora eu continuo e termino”—

que tudo

[ali]

tem,

 

e se prolifera,

espontaneamente,

enquanto

existe ar,

tem ar,

há ar

—ele está diminuindo;

dá até pra ouvir

um tipo de sussurro.

 

É por isso

que,

de tempos em tempos,

como agora,

eu abro a gaveta...

não pra rever anotações,

mas pra que elas respirem.

 

É meus papéis.

 

Assim mesmo,

sem concordância.

 

Só sai de lá

—ou só sai daqui?—

quando concordarmos.

 

 

 

 

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Andalaquim
Enviado por Andalaquim em 08/05/2020
Alterado em 11/11/2023
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