PRA CHAMAR DE CHÃO
Eu queria
ter uma caneta
só para compor coisas
das minhas peças
e ter outra caneta
só para tomar notas
das tarefas das minhas terras.
Esqueço-me
de que não tenho terras
nem intenção de tê-las.
Contento-me
com uma única caneta,
portanto,
e uma porção,
um tanto quanto grande,
de papel,
pra chamar de chão
e pra lavrar um rebanho
de letras
que tem
fragmentos de frutos
e, ao mesmo tem-po,
trapos de tripas.
Cultivo uma parte.
Crio outra.
Seres estranhos,
às vezes lindos,
às vezes medonhos,
com vísceras nas flores
e perfume nas entranhas.
/-\|\||)/-\|_/-\(,)|_|||\/|