O TALHER DO MEIO
primeira lição
A mãe
ensinando ao filho
lições de comportamento à mesa:
__Coma assim!
__Não entendi.
Como assim?
__Assim, veja!
__Ah, sim…
__Então coma!
__Xi, já me esqueci.
Como? Assim?
__Não!
“Larga a mão”!
Seguindo a moral da lição,
o filho, então,
obediente à impaciente mãe
e ao pé da letra da expressão,
soltou os talheres ao chão.
Reposicionou a mão
para outra expressão:
lançou mão dos dedos
e se lambuzou sem medo.
dever de casa
Um dia,
a família
receberia visitas.
A mãe
disse ao rebento:
__Veja se come
como eu o ensinei.
Visita em casa.
Casa arrumada.
Arrumação requintada.
Comida à mesa.
Mesa bem posta.
O menino,
comendo direito, pelo menos,
quebra o requinte
com sua sinceridade inocente
diante do visitante:
__Que delícia!
Quem dera
todo dia fosse assim!...
lições avançadas
O mesmo menino,
anos depois,
jantando com a família,
aprendeu, finalmente,
etiqueta com o pai.
Hora do jantar.
Família reunida à mesa.
O garoto
solta um arroto.
O pai enfurecido:
__O que é isso, rapaz?
__É um gás,
que saiu da minha barriga,
passou pela minha boca
e chegou até o ar.
É pra mostrar que eu sei
a rota do arroto.
O pai
desfere-lhe um tapa.
O filho espantado:
__O que é isso, papai?
__É um gesto
que saiu da minha fúria,
passou pela minha mão
e chegou até teu rosto.
É pra você aprender
as etapas do tapa.
formação
Sabe-se pouco
do menino desde então.
Diz-se
que ele cresceu
comendo certo de garfo e faca
e mastigando de boca fechada.
No máximo e escondido,
sempre que pode,
come tudo de colher,
fora do prato,
dentro do pote.
Arremata
—matariam-no
—seria o passo após o tapa—
se fosse visto,
por matá-los
de vergonha—
palitando os dentes
e comendo de novo
—não se recomenda—
o que sai
no palito.
Bonito!
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