CORREU COMO CORISCO
Tinha pavor de sapo, horror a cobra. Mas o sapo e a cobra ele tinha como contornar. No entanto, uma coisa lhe fugia do controle e realmente lhe metia medo: raios. Um medo tremendo, que o punha tremendo de medo.
Sempre que chovia fortemente, ele se lembrava de duas histórias envolvendo raios e árvores.
Toninho, funcionário antigo da fazenda da família, tinha acabado de parar para fazer o lanche da tarde. Ele se abrigou debaixo de uma árvore. Um vento forte, mais forte do que o já característico vento intenso daquele topo da fazenda, começou a soprar. Toninho percebeu que, na árvore, havia um galho pendente, prestes a ser derrubado pela ventania. Ele, então, saiu de debaixo da árvore, temendo um acidente com o galho. Na verdade, ele acabou evitando um acidente com um raio, que, pouco depois que ele se desabrigara, caiu na árvore, destrinchando-a, destroçando-a, destroncando-a. O céu nem estava tão nebuloso. Mas ficaria cinzento se Toninho não tivesse escapado da morte por um fio, por um galho, por um raio.
Deu-se assim.
A outra história tem final triste. Setenta e sete vacas na propriedade de uma amiga escondendo-se de um temporal sob uma árvore, destino de outro raio. Não restou uma rês.
Deu-se como tal.
Por isso, toda vez que se anunciava uma tempestade e vinham os raios, ele ficava amedrontado, mesmo que dentro de casa. E a cada caída de faísca, ele pensava que alguém ou algo tinha sido atingido e tinha se ido.
Para enfrentar a cobra, tinha o pau. Para passar pelo sapo, tinha o pulo, mas nunca o sal. E para aliviar um pouco a tensão dos momentos tempestuosos, passou a enfrentá-los fingindo ser um estudioso do tempo, contabilizando num caderno cada raio que caía no raio de sua visão, contando os segundos entre o relâmpago e o trovão.
Até que um dia, um vendaval o pegou de surpresa num campo aberto, anunciando um temporal. Preocupado em correr para se abrigar debaixo de alguma construção, sequer pensou em algo quando o primeiro raio caiu.
Deu-se como conta.
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